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12 de jun. de 2012

A Liberdade pela Respiração

por Pedro Tornaghi
Conta a mitologia grega que, em tempos imemoriais, certo dia Prometeu resolveu criar um boneco feito de barro e limo. Insatisfeito com a inércia de sua criação, ele ousou subir ao Olimpo e roubar de Zeus o fogo divino – privilégio exclusivo dos deuses até então – para soprá-lo pela boca de seu boneco e, com isso, conferir-lhe vida. Foi assim, segundo os gregos, criado o primeiro homem.

De lá para cá muita coisa aconteceu e o homem se esqueceu de sua origem e de quase tudo que fosse essencial à sua existência. Esqueceu-se que inspirar significa permitir a entrada do fogo divino, significa acatar o caos original e deixá-lo transformar-se – misteriosamente – em ordem dentro do corpo; esqueceu-se também que expirar comporta o significado de devolução: depois de vertida a ordem em dissolução, morte e caos dentro do corpo, chega a hora de devolver o alento vital ao universo. A aceitação do fogo divino em cada inspiração tem sido, na Índia, o principal segredo da vitalidade dos iogues e é a base de quase todo o trabalho corporal e energético oriental. Essa aceitação também é vista no oriente como o caminho recomendável para quem deseja alcançar um entendimento existencial da matéria enquanto energia, a grande escola para se transformar experiência em consciência.

O mito de Prometeu remete também à relação da respiração com a consciência, uma vez que, animado pelo fogo e alento olímpicos, seu boneco passou a pensar, questionar e tomar decisões próprias. A respiração foi a chave usada por Prometeu para conferir a independência que ele desejava e pressagiava ao homem.

É relativamente fácil reconhecer que respiração é energia e talvez muitos entendam ser ela responsável pela possibilidade de consciência, mas, por que será que tão poucos lançam mão, na prática, desse recurso? Por que será que, existindo técnicas de respiração disponíveis para tornarem a pessoa mais inteligente, perceptiva, atenta e feliz, tão poucos as praticam? Será falta de informação, interesse, medo de transformação? A última hipótese não se justifica, já que, desde Lavoisier, sabemos que tudo se transforma, o tempo todo. É inexorável. E essa transformação pode obedecer às leis da inspiração ou às da expiração, às leis da vida ou às leis da morte. Se formos governados pela mente – ao invés de governá-la – a dinâmica da transformação em nós apontará na direção da destruição. Se, ao contrário, deixamos que a transformação ocorra segundo a força organizadora que perdura por trás e sustenta toda a existência, a experiência da transformação nos guiará, sempre, por caminhos que levam à vida e ao movimento. E naturalmente, como no boneco de Prometeu, à consciência.

O fato de que a vida começa em nossa primeira respiração é pleno de significados passíveis de reflexão. A palavra parto vem de “partir”, partir de um lugar para outro, de um estado para outro, de um estado sem respiração própria para outro de autonomia vital. Mas, então, por que tão poucos lançam mão do seu direito à autonomia? E como fazer para passar a ser senhor de si, da própria consciência e das próprias escolhas e decisões?

Se o segredo, como propõe Prometeu, pode estar na respiração, poderíamos começar por aceitar o poder transformador presente em cada inalação e exalação; em deixar a respiração operar sua arte em nós e devolver dignidade à vida. Mas, como aprender a aceitar? Como encontrar um caminho para desfazer-nos de nossos medos e defesas, tão bem plantados em nossos inconscientes, e abrirmos nossas asas para os vôos mais altos? Vôos ambiciosos, mas que nos são de direito desde o nosso nascimento?

Com o intuito de responder a essas perguntas e possibilitar uma nova dimensão no relacionamento com a vida, foi elaborada a “Terapia da Respiração”, método de reeducação respiratória que alia antigas técnicas orientais a experimentos e descobertas recentes. Ela é constituída de seqüências de movimentos e ritmos respiratórios que dissolvem tensões na musculatura profunda e desbloqueiam e reabilitam a respiração. Os benefícios são ao mesmo tempo físicos, emocionais, mentais e espirituais, possibilitando à pessoa estar mais próxima de si mesma e, ao mesmo tempo, livre de angústias, medos, ansiedades e outras maneiras de auto-engano.

Por meio dela é possível descobrir, aos poucos, uma pulsação própria, única e intransferível da respiração que norteia e orquestra todos os demais ritmos do organismo. Essa harmonização dos ritmos internos, enquanto liberta a pessoa de influências nefastas externas e equilibra humores internos, promove a saúde física, o equilíbrio emocional e a lucidez mental. A Terapia da Respiração é um passo possível no sentido de dar suporte ao sonho de Prometeu, de produzir um homem livre e auto-gerido, um homem disponível para viver para a felicidade e a realização. Plenamente.

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